Lembro-me de minha mãe contando do quanto meu pai não ligava pra bebês ou crianças no tempo em que eram recém-casados. Ele dizia que eram todos iguais. Todos, a seus olhos, pareciam-lhe joelhos adormecidos. Até que minha mãe engravidou. Lembro dela o descrevendo no hospital, com ar debochado, que meu pai não teve coragem de assistir ao parto com receio de desmaiar, ou coisa que o valha.
"Teu pai é um cagão! Não pode ver sangue!" Eu sempre ria.
De todas estas lembranças entre fórceps, joelhos e bisturis a que mais me emociona é a de quando ela menciona o quanto seu pensamento havia mudado drasticamente no momento em que o pai me segurou nos braços pela primeira vez. De repente o joelho virou um pingo de gente, com olhos, nariz, orelhas e até boca, vejam bem. O pingo de gente que era um pedacinho dele. Nascia sua Florzinha.
Faz vinte e seis anos que te conheço, pai. Orgulho-me de cada passo que deste, de cada mão que me estendeste e de cada empurrão que me deste quando mais precisei. Orgulho-me das tuas falhas e das tuas conquistas, pois sem falhas não poderíamos ensinar nada um ao outro.
Hoje nos encontramos esporadicamente e nossos encontros amadureceram. Falamos como adultos, sobre carreira, política e ainda contamos piadas. Outro dia lhe pedi uma boneca. Brinquei de ser Florzinha e o fiz me fazer uma promessa, como nos velhos tempos em que não tínhamos dinheiro para compras impulsivas (não temos até hoje, FYI). A promessa foi cumprida. O aniversário é dele, mas ele ainda me deve a boneca.
Parabéns pro homem mais íntegro que já conheci, papai.
Te amo com louvor!